quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Vitorino vs. Fonseca + Tigerman

A grande discussão de hoje nas redes sociais é a legitimidade de artistas portugueses cantarem em inglês. O Vitorino Salomé, numa entrevista ao Jornal de Leiria diz que é uma vergonha, que é ridículo não transmitir a sua arte na língua materna, que os cantores só o fazem porque são preguiçosos, uma vez que é muito mais cómodo usar uma língua mais simples e mais ouvida que o nosso Português.
Picados com estes comentários (pelos vistos o barrete assentou-lhes que nem uma luva), David Fonseca e Paulo Furtado (aka Legendary TigerMan) respondem que mais triste do que cantar em inglês por opção, é cantar em inglês quando uma marca "nos põe uns trocos no bolso", referindo-se claramente ao anúncio Duetos Improváveis da Optimus, no qual Vitorino contracenava com os Expensive Soul no tema All Together Now, um tema original dos Beatles.

Espalhados pelas páginas de facebook por este país fora estão centenas de comentários, os que concordam com o Vitorino, os que concordam com os cantores portugueses que cantam em português, os que concordam com todos e os que não concordam com ninguém (o habitual, portanto).
Lá pelo meio de tanta opinião gratuita, uma teve uma especial atenção da minha parte: o Vitorino não canta em inglês mas têm músicas em espanhol... ora, o que se discute aqui é cantar em inglês ou é cantar numa língua estrangeira (independentemente de ser inglês, francês, espanhol ou chinês)? Para mim é exactamente a mesma coisa. Ou se canta em português ou em estrangeiro... não existem idiomas intermédios.

Em relação a esta polémica, acho que existem dois pontos essenciais: uma coisa é cantar músicas em inglês (escritas por outros), outra coisa é compor em inglês para o próprio cantar. E porquê essa diferença? A questão é que, sem dúvida alguma, é mais fácil compor letras em inglês (língua inglesa e não qualquer outra estrangeira) do que em português: you (tu) e blue (azul) rimam em inglês, em português não. Por isso é que depois temos letras que traduzidas são ridículas: I just can't stop thinking about you/ You are my heart, my soul, my blue - é só um exemplo de que, em português, nunca nenhum artista ousaria cantar tamanha estupidez (nem nenhum autor escrevê-la)... já em inglês, a língua deixa fluir e até soa bem.
Por essa ordem de ideia, se um novo artista estiver a começar a escrever as suas próprias letras (como todos deveriam fazer para manter a sua própria sobrevivência e evitarem terem todos músicas iguais) é normal que o início ocorra em inglês, por ser mais fácil e a probabilidade de correr bem ser maior e não necessariamente por serem todos uma cambada de preguiçosos. Por outro lado, se o artista se limitar a cantar o que foi escrito por outrem, a opção pode, perfeitamente, passar por uma música na sua língua materna: não tem dificuldade em transmitir a mensagem e todos os seus seguidores (sem excepção) vão perceber o que está a dizer. Ainda por cima, porquê escolher autores estrangeiros quando temos excelentes poetas (poucos compositores de profissão, que escrevam a pensar em poemas musicados) nacionais? Isso a mim também não me faz sentido.
No entanto, e porque vivemos em democracia, em que cada um tem liberdade para dizer e cantar o que bem lhe apetece e na língua que lhe der mais jeito, esta discussão é ridícula. O David Fonseca não tem menos ou mais qualidade por cantar (quase) exclusivamente em inglês; esta foi a sua opção de carreira e até agora, até tem tido sucesso.
Triste, triste, é haver pessoas portuguesas a tocar e a cantar que têm talento 0, cultura musical nacional e internacional nula mas que lançam CD's. fazem videoclips, aparecem em capas de revistas e têm destaque em programas de televisão: isso sim é uma vergonha, "obrigar" as pessoas a acreditar que aquelas pessoas têm qualidade e merecem o apelido de cantores. Mas disso ninguém (ou poucos) falam.

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